Cumpre-me apresentar ao
Congresso a actividade do grupo parlamentar do nosso Partido e
relevar o significado e a importância da intervenção dos
deputados comunistas na Assembleia da República. Frente indispensável
de intervenção e trabalho políticos, em que os deputados comunistas,
em estreita ligação com a actividade e a orientação gerais do Partido,
dão voz institucional aos anseios, às justas reivindicações e
às lutas de todos aqueles que exigem mais desenvolvimento, mais
justiça social, mais e melhor emprego, melhores condições e
níveis de vida, garantia das liberdades democráticas e dos
direitos dos trabalhadores e defesa da independência e soberania
nacionais.
No projecto de Resolução Política apresentado ao Congresso
faz-se um breve balanço político da actividade do nosso Grupo
Parlamentar, caracterizador da correspondência desse trabalho
com os objectivos e as tarefas que lhe são exigidas e que
decorrem da estratégia política do nosso Partido e dos
compromissos assumidos pelo PCP perante os portugueses.
As inúmeras intervenções no período de antes da ordem do
dia, as muitas centenas de requerimentos ao Governo, os
permanentes encontros com organizações de trabalhadores e
outras organizações sociais, as incontáveis visitas a
empresas, a escolas e a múltiplos locais em que surgem
situações de injustiça e problemas por resolver, ilustram a permanente
ligação do grupo parlamentar comunista aos trabalhadores e ao povo
que o elegeu e nele depositou um mandato de confiança, mas
também de grande exigência política e ética.
É para corresponder a essa confiança e exigência políticas
que o Grupo Parlamentar comunista, apesar da sua relativamente
pequena dimensão, tem sido o que maior número de iniciativas
legislativas apresenta na Assembleia da República.
Mas mais importante que o número, o fundamental, é que a
generalidade dos projectos de lei apresentados pelos deputados
comunistas, recolhendo as iniciativas e opiniões dos organismos
do Partido e de organizações sociais, particularmente de
organizações de trabalhadores, estão sempre ligados e visam
dar adequada resposta às preocupações dos movimentos sociais,
às aspirações dos trabalhadores e das massas populares.
Por isso os deputados comunistas se orgulham dos projectos de
lei que subscrevem e apresentam, como os relativos à redução
efectiva e sem contrapartidas do horário de trabalho, à
reposição da idade de reforma das mulheres aos 62 anos, à
revogação das propinas, à implementação de uma rede pública
de ensino pré-escolar e outra de tratamento e recuperação de toxicodependentes,
à efectiva e democrática fiscalização dos Serviços de Informações,
ao reforço dos direitos das mulheres, à alteração da lei da interrupção
voluntária da gravidez, e tantas dezenas de outros projectos de lei.
É ainda na prossecução dos objectivos de um País mais
justo, mais democrático e mais desenvolvido que o Grupo
Parlamentar Comunista está neste momento empenhado nos trabalhos
do processo de revisão constitucional, na luta pela
concretização da regionalização e na discussão do Orçamento
do Estado para 1997.
Este não é o Orçamento do Estado que o País necessitava e
os trabalhadores e os reformados exigiam e mereciam.
Porque o Orçamento do Governo do PS sobrepõe, dogmática e irresponsavelmente,
os interesses da moeda única, os interesses do capital financeiro
transnacional, aos interesses objectivos da economia e da sociedade
portuguesas.
Mantém as pensões de miséria com que sobrevivem um milhão
e oitocentos mil reformados e pensionistas. Assenta no
congelamento dos salários reais. Ameaça com o contínuo aumento
do desemprego. Aposta na aceleração do nefasto processo de
privatizações. Agrava as injustiças fiscais.
Mas é inequívoco que dentro de poucos dias o Governo do
Partido Socialista verá o seu Orçamento aprovado, com a
cumplicidade e apoio activos da direita, do PSD e do CDS/PP.
Aliás, Camaradas, os acontecimentos dos últimos dias não
deixam margem para dúvidas. Ao Governo do PS não bastava ter
já assegurada a viabilização do OE com a abstenção, amiga e
conivente do PSD.
O primeiro-ministro quis, mais uma vez e publicamente, fazer a
colagem política do seu Governo ao CDS/PP, à extrema direita
parlamentar.
O acordo orçamental entre o Governo e o CDS/PP é
politicamente indecoroso, mas muito significativo. Por parte do
Governo, porque não necessitando dele para a viabilização do
Orçamento quis significar que o primeiro-ministro, o Governo e o
PS elegem o Dr. Manuel Monteiro, o CDS/PP e, por eles, também a
CIP, como os seus aliados políticos preferenciais.
Politicamente vergonhoso por parte do CDS/PP porque, depois de
acusar o Orçamento de "orçamento da moeda única" vai
viabilizá-lo. E significativo porque comprova, se ainda
necessário fosse, que a alegada oposição do PP à moeda única
é mera oposição de fachada, é uma fraude política.
A verdade é esta, Camaradas: a experiência vivida na
Assembleia da República nos últimos doze meses mostra que o
Governo do PS não cumpre, nem quer cumprir, as suas próprias
promessas eleitorais. Mas mostra, fundamentalmente, que o Governo
do PS governa com a direita e para a direita.
Também por isso, Camaradas, vos posso garantir em nome de
todos os deputados comunistas, que o nosso Grupo Parlamentar irá
continuar na Assembleia da República a ser a oposição
responsável e firme ao Governo do PS, à política de direita. E
continuaremos a lutar, com todo o Partido, por uma política de
esquerda que dê resposta aos grandes problemas nacionais, que
corresponda aos interesses e aspirações dos trabalhadores e das
massa populares, que abra as perspectivas de um futuro melhor
para a juventude, num Portugal de progresso, independente e soberano,
mais justo e solidário.