|
"Vantagens dos milhares" Ruben de Carvalho no "Diário de Notícias" |
|
Domingo, 30 Maio 2004 |
|
Em 1962 a França procedeu a uma reforma monetária visando resolver a situação de uma unidade fiduciária profundamente desgastada pela inflação: criou-se uma nova moeda com um valor facial 100 vezes superior à anterior, mas que deu origem a uma situação bizarra. Como a moeda continuou a chamar-se franco, embora baptizado de Novo, o francês médio, com os referenciais adequados à situação anterior, continuou no dia a dia a utilizá-lo, o que deu origem a que um produto custasse simultaneamente uns módicos 10 francos (novos), mas igualmente uns assustadores 1000 francos (velhos)... Com o euro sucedeu entre nós precisamente o contrário: o simpático custo de 5 euros obriga a que não nos esqueçamos que vamos desembolsar um rotundo conto de reis... Por exemplo. O estádio de Coimbra era para custar 2,8 milhões, mas afinal custou 11,2 milhões (de contos). A Câmara Municipal de Lisboa vai ter de pagar apenas para as infra-estruturas do Rock in Rio à volta de 150 mil (contos). Outro estádio, o de Aveiro, estava previsto para 6 milhões e acabou em 13 milhões (de contos). O actual colaborador de Manuela Ferreira Leite no fisco vai discretamente ganhar por mês 4696 (contos). Um modesto empresário de Águeda contribuiu em notas para a campanha eleitoral do PSD com 30 mil (contos). De facto, assim percebem-se melhor as coisas. |