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A Luta continua
Speech - Albano Nunes
Foi um grande comício este nosso Comício Internacional de Lisboa. Pela importância
e oportunidade política do seu tema central. Pelo amplo leque e alto nível das
forças políticas participantes. Pelo seu carácter de massas, em que é justo
sublinhar a grande e aguerrida mancha de juventude e o esclarecido e combativo
calor de solidariedade internacionalista que percorreu todo o comício. E mesmo,
apesar das mudanças de última hora impostas por condições climatéricas hostis,
pela beleza do cenário que a onda de bandeiras vermelhas realçava.
No Campo Pequeno todos os oradores disseram em diferentes línguas duas coisas
fundamentais. O desemprego e a regressão social não são uma fatalidade com que
os trabalhadores e os povos tenham de conformar-se. O fortalecimento da cooperação
e da solidariedade internacionalista, o desenvolvimento de acções comuns ou
convergentes, é uma exigência fundamental da hora presente. Neste sentido o
Comício Internacional de Lisboa constitui sem dúvida um novo e importante marco
no processo de aproximação e cooperação dos comunistas e de outras forças de
esquerda e progressistas que, para ser consistente, se quer profundamente vinculado
com a classe operária e as massas populares, enraizado nos seus problemas concretos
e inseparável das suas lutas.
Sim, há solução para o gravíssimo problema do desemprego que afecta duramente
todos os países da União Europeia e é hoje um dos grandes flagelos da Humanidade.
As extraordinárias conquistas da ciência e da técnica tornam hoje possível que
todos trabalhem trabalhando menos tempo. Se sucede precisamente o contrário,
se milhões de seres humanos são brutalmente colocados à margem do processo produtivo,
e reduzidos à condição de meros "excedentes", é porque o grande capital
se apropriou e utiliza em proveito próprio essas extraordinárias conquistas
da inteligência e da criatividade humana. E em lugar de factor material decisivo
do progresso social e da emancipação humana, o progresso científico torna-se,
nas condições do capitalismo contemporâneo e da acentuação do seu carácter explorador,
injusto e desumano, um factor de opressão e regressão civilizacional.
A solução desta violenta contradição engendrada pelo
capitalismo não está obviamente num novo tipo de
"ludismo" desesperado e destruidor, mas no
desenvolvimento da luta contra a ofensiva neoliberal e por
profundas transformações económicas e sociais de natureza
anticapitalista. A dinâmica da luta pelo direito ao emprego e
pelo pleno emprego com direitos situa-se objectivamente na
corrente da luta pela reestruturação revolucionária da
sociedade, na perspectiva do socialismo.
Esta reflexão vai obviamente muito para além do âmbito em que se situou o
nosso Comício e significa apenas que na nossa acção em torno de objectivos concretos
e imediatos não perdemos de vista a perspectiva revolucionária mais ampla em
que inserimos a nossa luta. Como também não perdemos de vista que, tendo sido
o nosso Comício Internacional necessária e muito justamente limitado às forças
que cooperam no âmbito do grupo da EUE/EVN do Parlamento Europeu, a exigência
de cooperação dos comunistas e outras forças de esquerda e progressistas nem
se esgota no espaço da União Europeia nem se contrapõe a uma mais ampla cooperação
no plano europeu e mundial. A problemática que esteve no centro do comício de
24 de Maio é universal, como universal é hoje o sistema de exploração e opressão
capitalista que a gera.
Entretanto, atentos e intervenientes no vigoroso movimento de
resistência e lutas populares que se desenvolve por toda a
Europa, estimulados pelo grande êxito do Comício Internacional
de Lisboa, prosseguiremos com renovada confiança os esforços
para unir todas as forças de esquerda e do progresso social na
luta para fazer frente à "construção europeia" de
Maastricht e por uma Europa de progresso social, paz e
cooperação. Como foi veementemente sublinhado no Campo Pequeno
"A luta continua!" e, quaisquer que sejam as
interdições impostas pelo poder dominante, acabarão sempre por
ser os povos a decidir do seu próprio futuro.
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